O carteiro tocou insistentemente à campainha até que fosse à
porta.
Depois de meses em que também eu, insistentemente, esperei
que ele passasse na rua para lhe perguntar:
- E hoje, não tem nada para mim?
Todos os dias, todos os malditos dias…
Pensou que, finalmente, me trazia o que tanto esperava, o
que desesperadamente procurava na caixa por entre as contas para pagar e os
folhetos publicitários do supermercado.
E nem reparou que há muitos dias que deixei de lho
perguntar, que nunca mais esperei que ele passasse. E que cheguei mesmo a
evitar que ele me visse, para que não me lançasse aquele encolher de ombros ou
pregasse os olhos no chão para que não tivesse que me dizer que não trazia
nada.
Rasgou um sorriso e disse:
- Menina, trago-lhe uma carta registada. Correio
internacional. Demorou mas cá chegou, está a ver! O que tem que vir, sempre vem
algum dia!
Vi-me encostada à porta com aquele envelope na mão. Aquela
letra que conhecia tão bem a espelhar o teu nome no envelope que de tão
imaculado, ninguém diria ter vindo do outro lado do mundo. A cada segundo,
sentia o coração bater como se fosse explodir.
Todos os dias, todos os malditos dias…
Esperei anos, caramba, anos!
Mas agora que me habituei ao silêncio da tua ausência. Agora
que a cama já não me sabe a vazio. Agora não me apetece ler-te.
O que virias dizer, que te lembraste de mim?
Quando bateste a porta o que te pedi não foi que te
lembrasses de mim um dia, pedi-te que não me esquecesses em nenhum!
Rasguei aquela carta
com a mesma fúria com que sempre te amei.
E desde esse dia, todos os dias, todos os malditos dias…
O carteiro toca, insistentemente, para me entregar um daqueles
envelopes imaculados, bem escritos, um daqueles com o teu nome, um daqueles que
junto aos folhetos publicitários do supermercado e deito no lixo.
Todos os dias, todos os malditos dias…
Insistentemente.
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