Havia uma rapariga a quem chamava de "imperturbável". Não porque realmente o fosse, apenas por ter sido essa a primeira palavra que me ocorreu, quando ouvi o seu nome. Simples, calma, entusiasmada ao falar, nervosa ao amar, poderiam melhor defini-la do que "imperturbável".
Talvez, no entanto, o fosse quando conduzia. Aí sim, entrava num mundo distante atrás do volante, uma paz de fazer inveja a um monge budista. Nada a irritava. As aselhices alheias, o desespero do volante alheio, apenas dela mereciam um leve suspiro, um desabafo quase inaudível nas buzinas urbanas.
Tinha no olhar um brilho de ansiedade contida, um definido estigma com que cunhava cada conversa. Nunca podia ter sido a " imperturbável", apesar de a continuar a chamar assim.
Recordo aquela vez, em que perdeu as estribeiras por ser acusada de algo que não fez. Julgo que até nem era nada de mal, mas não gostava de tomar crédito pelo que não fazia. Passar impoluta das acções de terceiros, convicção que reforçava de forma convicta. Talvez apenas tentasse manter-se verdadeira.
Imperturbável? Não, não o podia ter sido.
Por força da minha verdade, não posso negar, apesar de não me parecer adequado, como é imperturbável na sua maneira própria de não o ser.
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