terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Correr

Sempre que corro lembro-me de outros corredores. Corredores como o Mamede que falhavam quando a glória estava pronta para colher. Corredores como Fidípides que correu até ao limite da sua vida para dar a boa nova. Corredores como o Forrest Gump que nunca sabiam quando parar de correr, runnin' against the wind.

Mas também me lembro de corredores por atravessar, corredores cheios de portas onde não convém espreitar. Lembro-me de corredores onde o sol conseguia chegar com a sala lá atrás e a cozinha ao fundo, corredores como aquele onde joguei as melhores partidas da minha vida ou corredores em que uma vassoura servia de Bucéfalo e uma colher de pau virava a Excalibur. Corredores que à noite eram escuros e escondiam fantasmas. Corredores de mármore em museus por descobrir. Corredores de bus para fugir ao trânsito, corredores humanos para salvar os perseguidos. Corredores... Corridas, correrias, corridinhas...

A idade tira-nos a velocidade, mas nunca paramos de correr. Há quem diga que a vida é uma corrida do primeiro ao último minuto. Eu disso não sei... Nem sei se tudo vai correr bem, mas para já vou correndo. Correndo como a Alice atrás do coelho.





Now, here you see, it takes all the running you can do, to keep in the same place. If you want to get somewhere else, you must run at least twice as fast as that!

Lewis Carroll, Through the Looking-Glass

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