O quanto gosto de por entre uma dança e outra, enquanto
danço ao som do meu copo, ir soltando frases insinuantes. Assim, bem perto do
ouvido, para que não haja outra interpretação, para que não se misture com a
música que vibra nas colunas, para que não possas confundir nenhuma palavra das
que vou pronunciando em jeito de confissão obscura junto da tua orelha. Hoje,
de tão perto, consegui decifrar todos os elementos do teu perfume que parece
perpetuar-se na pele do teu pescoço e da tua orelha.
Aproximo-me do bar na esperança de que te deixes ficar ali,
de que peças também uma bebida e me acompanhes. Enquanto peço mais gelo, penso
no que estarás a pensar. Cresce em mim uma vontade de poder provar uma bebida
pela tua boca ou o resto do que nela ficar. Começo já a pensar no sabor fresco
das bebidas com gelo a misturar-se com o quente do álcool… Começo a pensar que
me sinto como uma bebida e que quero que esgotes uma garrafa comigo.
Quando me volto já não estás. Mas afinal, não fui
suficientemente clara?
Largo o copo.
Voo pela pista.
Apanho-te à porta.
Estás nervoso, sinto-o! Sinto-me a fera a encurralar a
presa.
Dissimulo a minha ansiedade com o cigarro que encosto à
boca. Bendito cigarro!
Peço-te lume. E, sabendo que nunca fumas, diverte-me
perguntar se me dás lume. Diverte-me fazê-lo nesse tom que tu sabes, como quem
pede fogo, como quem espera que incendeies tudo.
Apesar da tua insistência em te afastares, meto-me contigo
no táxi numa espécie de “agora ou nunca”. E só eu sei o que me custa toda esta
exposição, toda esta vontade óbvia estampada no olhar e na minha acção.
O táxi arranca e olho pela janela enquanto toda a paisagem
corre lá fora, consigo ver-te, do outro lado do banco, reflectido no vidro.
Olho-te nos olhos e penso no que farei daqui a cinco minutos…
se saio e te deixo dinheiro para a tua viagem ou se espero que pagues ao motorista
e fiques apeado à minha porta.
O coração vai saltar-me pela boca, caramba!
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